“ Se se quer conservar a família, é preciso mantê-la afastada. (...) A separação cria saudade. A distância facilita o respeito.” Partindo destas premissas Miguel Esteves Cardoso reflecte sobre a distância / proximidade dos elementos de uma família. Para o mesmo a “família ideal” não deve partilhar o mesmo espaço, sendo que a felicidade desta depende de “uma questão puramente arquitectónica”. E se assim fôr, “Mais tarde ou mais cedo, como é regra do amor, as saudades superam os ressentimentos e as campainhas recomeçam a tinir, e os “desculpa lá” recomeçam a ressoar. As pazes fazem-se de livre vontade. Os beijinhos dão-se de bom grado. A família reúne-se, no verdadeiro sentido da palavra. E reina a concórdia.”
Este texto permite a reflexão sobre aquilo que é a família e das suas relações com o espaço físico, fazendo com que se pense sobre os limites físicos do nosso comportamento em sociedade.
Não é que discorde na totalidade com o texto de Miguel Esteves Cardoso, mas leio e releio e este começa a fazer algum sentido ao mesmo temo que, por ser tão drástico (e um bocadinho incoerente), também me afecta. Mas isso também pode ser porque sou ‘romântica’ e optimista e acredito no valor da família...mesmo aquela que coabita no mesmo espaço.
“Cada qual com a sua banda sonora”. Fazer deste o lema da família do futuro pode ser uma mostra de respeito e zelo pelas pessoas na sua individualidade. Uma pessoa pode só ser feliz quando faz aquilo que quer! Mas será realmente necessário associar o bem estar individual à negação de uma convivência diária da familia no mesmo espaço físico? “O segredo é conviver em vez de coabitar”, mas não será mais tentador conseguir conviver no espaço que coabitamos e partilhamos com aqueles que nos deviam ser/são mais queridos? E não será possível conseguir respeitar o “espaço” de cada um, mesmo na mesma casa? O problema não é o espaço físico! Trata-se de conseguir respeitar o espaço moral de cada um...esse que é também formado com a influência da família, porque ‘família’ é um grupo que influencia e é influenciado. A questão que se põe às famílias consanguíneas põe-se também às restantes ‘famílias’, como é, por exemplo, um grupo de amigos.
Há que, em qualquer situação, saber respeitar o espaço de outra pessoa. A nossa liberdade acaba quando a de outro começa! E deste modo,desde que se construa um núcleo assente em principios morais correctos, qualquer família pode ser feliz. A esta receita junta-se o número de dias da semana de colheres de sedução, o mesmo número de gotas de charme, alguma paciência, dedicação e amor e uma dose q.b de não optar pelo facilitismo (“Para uma família ser feliz, é necessário haver sedução. Os filhos têm que ser charmosos para encantar os pais, os pais têm de se esforçar para educarem convincentemente os filhos. E marido e mulher, caso queiram permanecer juntos, têm de passar a vida inteira a engatar-se. O mal da família é a felicidade. É pensar que aquele amor já é um sentimento arrumado.”, “Uma família que é obrigada a convencer-se e seduzir-se, a respeitar-se mutuamente é uma família que pode durar para sempre.”), porque manter uma família unida e conseguir conciliar as diferentes personalidades que a compõem não é fácil nem perfeito, mas é necessário para a construção de um comportamento mais correcto e o crescimento mais saudável de todos os seres humanos.
Se “o mal da família é um problema de má-criação e de falta de respeito” deixa de ser um problema de ‘espaço’. Tendo em conta a opinião referida no parágrafo anterior, crescer fora de um ambiente de família unida só contribuí para essa má-criação e falta de respeito...o egocentrismo e egoísmo. É necessário aprender a respeitar não só as nossas necessidades e gostos, mas também as daqueles que nos rodeiam. Apesar do autor do texto ter razão em algumas coisas que redige, não se pode resumir a solução da construção de uma “família feliz” apenas pelo ‘afastamento’.
A família não é perfeita (existirá uma família perfeita?), mas também não é uma “instituição insuportável”. A minha é maravilhosa! Faz-me desejar dar-lhe continuidade: um casamento, se possível 5 filhos, educá-los e vê-los crescer, com o objectivo de fazer deles bons cidadãos e fazer com que tenham uma vontade prazerosa de continuar ‘a família’, e assim, sim, fazer disso um “círculo vicioso”.